Querendo ver outros blogs meus consultar a Teia dos meus blogs

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Cosi fan tutte-Soave sia il vento

Soave sia il vento" é uma das joias mais sublimes da ópera Così fan tutte. Ele aparece logo no primeiro ato, num momento de aparente serenidade, mas carregado de ironia dramática — e isso é parte do seu poder emocional.

Fiordiligi, Dorabella e Don Alfonso entoam esse trio enquanto os dois rapazes (disfarçados) fingem partir para a guerra. As mulheres fazem votos para que o vento seja suave e que o mar conduza os amados em segurança.

Mas... o público já sabe que tudo é uma farsa. E é aí que entra o verdadeiro gênio de Mozart: ele compõe uma música de sinceridade comovente para um momento de fingimento e manipulação.

Características musicais

  • Andamento lento e ondulante, como o movimento do mar.

  • Textura transparente, com as vozes femininas (Fiordiligi e Dorabella) em terças doces e Don Alfonso por baixo, quase como um eco sombrio.

  • Harmonia plácida, mas com um tom de melancolia — quase como se a música pressentisse a dor que virá.

  • A melodia tem um desenho suave e largo, que parece flutuar.

Soave sia il vento
Tranquilla sia l’onda,
Ed ogni elemento
Benigno risponda
Ai nostri desir.

Tradução:

Suave seja o vento,
tranquila seja a onda,
e que cada elemento
responda benigno
aos nossos desejos.


É um dos momentos mais belos da ópera — e talvez de toda a música de Mozart — exatamente por essa fusão de forma perfeita, emoção contida e subtexto irônico. Uma prece que parece sincera, mas que ecoa dentro de um jogo de aparências..

Cosi fan tutte-Abertura

Così fan tutte! Uma verdadeira joia do repertório operístico. Composta por Wolfgang Amadeus Mozart com libreto de Lorenzo Da Ponte, foi estreada em 1790 em Viena. É a última das três grandes colaborações entre Mozart e Da Ponte, ao lado de Le nozze di Figaro e Don Giovanni.

Enredo (comédia com ironia)

  • Traduzido como “Assim fazem todas”, o título já revela o tom: uma observação irônica sobre a constância (ou falta dela) das mulheres no amor.

  • Dois oficiais, Ferrando e Guglielmo, apostam com Don Alfonso que suas noivas (Fiordiligi e Dorabella) lhes seriam fiéis — e para testá-las, fingem partir para a guerra e retornam disfarçados para cortejá-las... um do outro.

  • As mulheres acabam cedendo, após resistência, e toda a farsa termina em uma reconciliação cômico-melancólica.

  • Música (Mozart no seu auge)

  • Mozart oferece uma escrita vocal incrivelmente refinada — cada personagem tem profundidade emocional e musical.

  • Os duetos e ensembles são destaque: por exemplo, o trio "Soave sia il vento" é de beleza transcendente.

  • Os recitativos mostram uma fluidez dramática magistral — tudo soa natural, como conversa em música.

😏 Temas

  • Amor, fidelidade, engano, manipulação — tratados com inteligência e ambiguidade.

  • Há quem veja a obra como misógina; outros, como uma crítica mordaz a todos os sexos, à vaidade e à inconstância humana.

  • A obra oscilou entre o desprezo e a admiração ao longo dos séculos. Hoje, é celebrada justamente por essa complexidade psicológica e seu equilíbrio entre leveza e profundidade.

🎭 Personagens

  • Fiordiligi e Dorabella: irmãs, jovens apaixonadas, mas vulneráveis.

  • Ferrando e Guglielmo: impetuosos e vaidosos, prontos a duvidar.

  • Don Alfonso: o cínico filósofo que manipula o jogo.

  • Despina: criada espirituosa, cúmplice da encenação, e cheia de truques.


Così fan tutte é leve na superfície, mas cheia de ironia filosófica. O riso que provoca muitas vezes tem gosto agridoce. É Mozart dizendo: o coração humano é volúvel, mas que música maravilhosa sai disso...,

terça-feira, 29 de abril de 2025

Conde Ory-Que les destins prospères

Nessa ária, o Conde Ory, disfarçado de um santo eremita, finge ser um guia espiritual, oferecendo "conselhos divinos" às mulheres que o procuram — especialmente à Condessa Adèle. No entanto, a sua intenção verdadeira é seduzir as damas enquanto seus maridos estão na cruzada.

Ele canta com pompa e solenidade, fingindo santidade, mas o público sabe que tudo é um teatro para conquistador. Isso cria um contraste hilário entre o que ele aparenta ser (um eremita casto) e o que realmente é (um libertino disfarçado).

🎭 Tons e características:

  • O texto é cheio de frases solenes e "proféticas", mas com duplo sentido.

  • A música é lírica e graciosa, com linhas melódicas que reforçam o fingimento do personagem.

  • Vocalmente, exige flexibilidade, agilidade e clareza, típicos do estilo bel canto.

Exemplo de intenção:

"Que les destins prospères / Vous soient à tous propices..."
("Que os destinos prósperos / Sejam favoráveis a todos vocês...")

— soa como bênção, mas é só o começo da sua encenação.

aqui quem canta é o Juan Diego Florez

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Clementina-Ay de mi

A ária "¡Ay de mí!" de La Clementina é um dos momentos mais emotivos da zarzuela.

  • É uma área de lamento: Clementina expressa tristeza e angústia, normalmente relacionada às dificuldades no seu amor ou a incertezas sobre o futuro.

  • A música tem um caráter dolorido mas contido — típico do classicismo de Boccherini: não é um drama explosivo, mas uma tristeza delicada, elegante, quase resignada.

  • A linha vocal é dolcíssima, muito cantável, e cheia de suspensões harmónicas que criam um sentimento de suspenso, de suspiro.

  • A orquestra acompanha de forma discreta, deixando espaço para a voz brilhar e transmitir essa emoção contida.

👉 "¡Ay de mí!" é o coração sensível de "La Clementina", onde a dor de Clementina aparece de forma suave, terna e cheia de nobreza.,

  • Ela lamenta a sua desventura — sente-se presa entre o que sente no coração e as dificuldades que enfrenta para viver esse amor.

  • Sente-se sozinha, sem saber como resolver o conflito entre o que quer (casar por amor) e o que os outros esperam dela (casar por conveniência).

  • Expressa uma sensação de impotência: o mundo ao seu redor parece indiferente ao que ela sente.

  • É um suspiro de alma: um desabafo sincero, mas ainda suave, sem revolta — apenas tristeza profunda.

Resumindo em uma frase curta:

Clementina lamenta, com delicadeza, o sofrimento de amar sem poder seguir livremente o seu coração. 

domingo, 27 de abril de 2025

Ciro in Babilonia-Vorrei veder lo sposo

Uma das árias mais notáveis de Ciro in Babilonia é “Vorrei veder lo sposo”, cantada por Amira no primeiro ato. 

Esta ária é um exemplo marcante do estilo bel canto de Rossini, destacando-se pela sua expressividade emocional e pelas exigências técnicas impostas à soprano, com passagens ornamentadas e notas agudas que demonstram a profundidade do amor e da angústia de Amira.

Na ária "Vorrei veder lo sposo", a personagem Amira (às vezes chamada Amina em algumas adaptações) expressa um desejo muito puro e intenso: ela quer ver o seu verdadeiro esposo — que é Ciro — e ser libertada da situação de cativeiro em que se encontra.

O tom da ária é de esperança misturada com dor.
Amira canta mais ou menos assim:

"Eu queria ver o esposo,
aliviar minha dor,
confiar-lhe a minha pena,
e nos seus braços esquecer o sofrimento.
"

O sentimento dela é duplo: por um lado, a lembrança amorosa de Ciro dá força para resistir; por outro, o medo e a solidão da prisão pesam no coração.

 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Caterina Cornaro-Donizetti-Tu l'amor mio tu l'iride

A ópera "Caterina Cornaro", de Gaetano Donizetti, é uma joia um pouco menos conhecida dentro do repertório operístico, mas cheia de força dramática e beleza musical.


Resumo da Ópera "Caterina Cornaro"

  • Compositor: Gaetano Donizetti

  • Ano de estreia: 1844 (Nápoles), depois revisada e reapresentada em 1845 (Parma)

  • Libreto: Giacomo Sacchero

  • Baseada em fatos históricos, embora com liberdades poéticas, a ópera conta a história de Caterina Cornaro, uma nobre veneziana do século XV que se torna Rainha do Chipre.

Temas principais:

  • Poder e política: Caterina é usada como peça num jogo político entre Veneza e Chipre.

  • Tragédia amorosa: Ela é separada de seu verdadeiro amor, Gerardo, e forçada a casar-se com o rei de Chipre.

  • Coragem feminina: Caterina acaba sendo uma figura de força e dignidade, resistindo à manipulação e assumindo seu papel de rainha com firmeza.

  • Donizetti já estava maduro musicalmente quando escreveu essa ópera.

  • Traz belas árias, especialmente para a protagonista (Caterina), com momentos de lirismo intenso e dramaticidade.

  • A orquestração e os coros são bem elaborados, mesmo sendo uma obra menos frequentemente encenada.


Tu l'amor mio, tu l'iride" é cantada no prólogo da ópera "Caterina Cornaro" de Gaetano Donizetti.

Essa belíssima ária faz parte de um dueto entre Gerardo e Caterina, logo no prólogo, quando os dois ainda estão apaixonados e acreditam que poderão ficar juntos.

É um momento lírico e luminoso da ópera — antes da sombra das intrigas políticas cair sobre eles. Os dois expressam o amor puro e idealizado que sentem um pelo outro. E é justamente essa felicidade que será depois destruída pelo destino e pelas decisões políticas da República de Veneza.

“Tu és o meu amor, tu és o arco-íris”
– uma metáfora lindíssima, associando Caterina à luz e à esperança depois da tempestade.

Essa cena é uma das mais doces da ópera — e contrasta profundamente com o clima sombrio do ato final. Donizetti usa isso como técnica dramática: fazer o público se apegar aos personagens antes de lhes arrancar a felicidade.-

Catarina Cornaro-Franz Lachner-Abertura

Catarina Cornaro de Franz Lachner — uma ópera bem menos conhecida, mas que tem seus encantos, especialmente para quem aprecia a escola romântica alemã.


Compositor: Franz Lachner
Ano de estreia: 1841
Idioma: Alemão
Local da estreia: Munique


Sobre o compositor:

  • Franz Lachner (1803–1890) foi contemporâneo de Schumann e Mendelssohn.

  • Trabalhou em Munique como maestro e era muito respeitado no sul da Alemanha.

  • Embora não tão famoso quanto os compositores do seu tempo, Lachner teve uma influência sólida, sobretudo em música orquestral e de câmara.


Enredo (resumidamente):

A ópera segue a mesma linha da história histórica:

  • Catarina Cornaro é uma jovem veneziana nobre.

  • Ela é escolhida para se casar com Jacques de Lusignan, o rei de Chipre.

  • No entanto, a nobreza veneziana usa o casamento como ferramenta política.

  • A peça gira em torno de intrigas políticas, amor perdido e sacrifício pessoal.

A ênfase de Lachner está mais no drama psicológico e nos sentimentos pessoais de Catarina do que na pompa política, o que dá um ar quase intimista à narrativa.

  • A ópera tem uma escrita que lembra Weber e até traços iniciais de Wagner — mas sem a densidade wagneriana.

  • A música é melodiosa, com orquestração clara e emocional.

  • Destacam-se os solos vocais expressivos e as cenas de conjunto bem estruturadas.

  • A personagem de Catarina tem momentos de grande lirismo, alternando com trechos de força e decisão.


  • Pouco encenada atualmente, esta ópera caiu em esquecimento, ofuscada por obras italianas com o mesmo tema (como a de Donizetti).

  • No entanto, nos círculos de estudo de ópera alemã, há interesse crescente em resgatar Lachner por seu estilo elegante e emocionalmente sincero.

  • Em gravações raras, nota-se a riqueza do material — mas ela carece de uma grande redescoberta internacional.

-

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Boris Godunov-Cena da morte

Boris Godunov", de Modest Mussorgsky — uma ópera monumental, densa e cheia de alma.

Baseada na peça de Pushkin e com forte influência da história real do czar Boris Godunov (fim do século XVI/início do XVII), essa obra é uma das mais poderosas representações do drama humano e político já compostas em ópera.

A trama gira em torno da ascensão e queda de Boris Godunov, que assume o trono russo após a morte suspeita do jovem czarevitch Dmitry (filho de Ivan, o Terrível). Boris é um homem atormentado pela culpa e pela dúvida se seu poder é legítimo — um verdadeiro Macbeth russo.

Enquanto isso, há um pretendente falso, o Falso Dmitry, que alega ser o czarevitch sobrevivente, e tenta tomar o trono com apoio externo. Todo o povo, a Igreja, os boiardos (nobres), os monges... todos giram ao redor desse conflito que mistura política, fé, miséria e delírio psicológico.

A grandeza da ópera está também na música — não é ópera no estilo italiano ou francês com árias virtuosísticas. Em vez disso, Mussorgsky cria um fluxo quase contínuo de recitativo realista, inspirado diretamente no ritmo e na entonação da língua russa.

  • O prólogo começa com o povo suplicando a Boris que aceite a coroa — já um retrato da alma coletiva russa.

  • A cena da coroação, com os sinos e o clamor litúrgico, é uma das mais grandiosas da história da ópera.

  • As cenas de Boris com o filho (Fiódor) mostram um lado profundamente humano e paterno do czar.

  • E a cena da loucura de Boris... é de cortar a alma: um homem grande, poderoso, completamente destruído por dentro.

Boris não é vilão nem herói. É um homem trágico. A culpa o consome. A solidão o consome. É como se carregasse o peso de toda a Rússia às costas. Uma figura imensa, tanto vocalmente quanto dramaticamente.

Há duas versões principais: a original de 1869 (mais compacta, focada em Boris) e a revisada de 1872 (com mais cenas, incluindo a trama do Falso Dmitry). Muitas produções misturam ambas

Cena final – Morte de Boris

O momento acontece no último quadro da ópera, muitas vezes chamado de "Morte de Boris" ou "Cena da Morte". Nele, o czar aparece com sinais claros de colapso físico e mental. Está atormentado por visões, vozes, alucinações — sobretudo a do pequeno czarevitch Dmitry, que ele (ou seus aliados) teria mandado matar. A culpa, que já vinha se acumulando desde o início da ópera, atinge aqui um ponto insuportável.

Ele cambaleia entre a lucidez e a insanidade, tentando manter a dignidade como líder, instruindo o filho Fiódor a assumir o trono, enquanto seu corpo e sua mente se despedaçam 

Loucura como desmoronamento

É uma loucura que não grita — é um colapso sombrio, uma agonia cheia de peso moral e existencial. O canto é grave, por vezes quase sussurrado, e a orquestra desenha um fundo denso, sombrio, quase espectral. Boris vê fantasmas, fala com vozes que não estão ali. E depois... morre..Aqui canta  grande     

terça-feira, 22 de abril de 2025

Boheme(La)-Che gelida manina,e Si mi chiamano Mimi

Impossivel falar de Boheme sem referir Pavarotti e Mirela Freni

que  cantam assim no 1º acto 

em Che gelida manina Rudolfo diz a Mimi

Que mão tão geladinha...
deixe que eu a aqueça.
Procurar — pra quê?
No escuro nada começa.
Mas por sorte,
a noite tem lua cheia,
e a luz que vagueia
aqui perto se comporta.

Espere, minha senhora,
vou contar com poucas frases
quem sou, o que faço,

como passo pelas fases..



E a MIMI responde 

Sim, chamam-me Mimì,
mas Lucia é meu nome.
Minha história é pequena.
Bordo linho e cetim,
em casa ou na rua serena…
Sou tranquila e contente,
e minha alegria, inocente:

fazer rosas e lírios de ar.      

Boheme(La)-Inicio

.La Bohème! Uma das óperas mais queridas e comoventes do repertório — composta por Giacomo Puccini e estreada em 1896 em Turim, com regência do jovem Arturo Toscanini.


Baseada no livro Scènes de la vie de bohème de Henri Murger, a ópera retrata a vida de jovens artistas e boêmios em Paris, no Quartier Latin, no século XIX. O foco está no romance entre Rodolfo, um poeta, e Mimì, uma bordadeira que sofre de tuberculose.

Puccini era um mestre do lirismo direto ao coração. Em La Bohème, cada personagem tem uma linha melódica própria, que vai crescendo em profundidade à medida que a ópera avança. Destaques:

  • "Che gelida manina" – a ária de Rodolfo, quando toca na mão gelada de Mimì pela primeira vez.

  • "Sì, mi chiamano Mimì" – resposta de Mimì, um retrato puro de simplicidade e encanto.

  • Quarteto no Café Momus (Ato II) – colorido, vivo, com uma Paris pulsante em volta.

  • Final do Ato IV – talvez um dos momentos mais devastadores da história da ópera. A música não grita — ela simplesmente te deixa em silêncio.



sábado, 19 de abril de 2025

Benvenuto Cellini-Sur les monts les plus sauvages

  • O libreto é de Léon de Wailly e Henri Auguste Barbier.Baseado livremente na autobiografia de Benvenuto Cellini, o célebre escultor e ourives renascentista italianoEstreou em 1838 em Paris, e foi um fracasso monumental.O público achou a obra confusa, difícil de seguir — e os músicos e cantores acharam quase impossível de executar.Berlioz ficou devastado... mas Liszt acreditava na obra e dirigiu uma versão revista em Weimar em 1852.

  • Sur les monts les plus sauvages uma ária de Benvenuto Cellini no Ato I.

    É um dos momentos líricos mais belos da ópera e revela o lado mais íntimo e idealista do personagem. Aqui, Cellini sonha com a liberdade, o amor e a fuga com Teresa, longe de Roma e de todas as intrigas. Ele canta à ideia de um amor puro, num lugar remoto — "nos montes mais selvagens" — o que dá o tom romântico e quase pastoral


     da ária..

    Aqui canta Robert Alagna     

    sexta-feira, 18 de abril de 2025

    Beatrice e Benedict-Nuit paisible

    Nuit paisible et sereine!  Esse duo da ópera Béatrice et Bénédict, de Hector Berlioz, é uma verdadeira joia — uma pintura sonora da noite, do repouso, da ternura partilhada num silêncio íntimo.

    • A ópera (comédie en deux actes) foi composta em 1862 e é baseada em Much Ado About Nothing de Shakespeare.

    • Este duo acontece no final do primeiro ato, e é cantado por Héro e Ursule, duas personagens femininas que se entregam ao encanto da noite.

    • O momento serve como um contraste calmo e contemplativo diante da comicidade leve que domina a ópera.

    O texto começa com:

    "Nuit paisible et sereine!
    O douce nuit d'été!"

    Logo sentimos a suavidade, como se o ar parasse para escutar. As vozes das duas sopranos (ou soprano e mezzo) se entrelaçam com suavidade e intimidade, como confidências sussurradas sob o luar.

    • tradução aproximada 

      "Noite pacífica e serena,
      ó doce noite de verão!
      O céu brilha, tranquilo,
      e a brisa dorme entre as flores.
      Tudo repousa nesta hora,
      tudo dorme, exceto o amor..."

      Aqui cantam Christiane Karg (Héro) e Ann-Beth Solvang (Ursule)

    •  

    .

    quinta-feira, 17 de abril de 2025

    Beatrice di tenda-Final

    .Beatrice di Tenda é uma pérola um pouco esquecida do repertório operístico de Vincenzo Bellini, composta em 1833. Ela é a penúltima ópera de Bellini (a última foi I Puritani), e embora não tenha alcançado o mesmo sucesso imediato de Norma ou La Sonnambula, tem momentos de bela intensidade lírica e drama concentrado que valem muito a pena.

    A história é baseada na vida real de Beatrice Lascaris di Tenda, uma nobre italiana do século XV. Na ópera, Beatrice é casada com Filippo Maria Visconti, duque de Milão, um homem frio e tirânico. Ela é acusada injustamente de adultério com Orombello, um jovem cavaleiro que na verdade ama Beatrice mas não é correspondido.

    Apesar de sua inocência, Beatrice é condenada e executada, após uma série de traições, mal-entendidos e crueldades. É uma tragédia que evoca temas como honra, poder, inveja e injustiça, com tons políticos e psicológicos fortes para a época.


    • Bellini compôs essa ópera em um momento de tensão criativa com sua libretista Felice Romani (que também escreveu Norma). Isso impactou um pouco a fluidez do libreto, mas a música de Bellini brilha.

    • A partitura é cheia de linhas vocais longas e expressivas, marca registrada de Bellini, exigindo muito especialmente da soprano no papel-título.

    • cena final de Beatrice é um dos pontos altos: profundamente emotiva, ela aceita seu destino com nobreza e tristeza, numa linha vocal de rara beleza.

    • aqui cantada por Valentina Farcas

    Beatrice (soprano dramática) é o centro da ópera, tanto emocional quanto musicalmente. Uma personagem forte, digna, e injustiçada, que lembra um pouco figuras como Norma ou Anna Bolena em termos de carga trágica.


    • A estreia da ópera, em Veneza, não foi muito bem recebida. Parte disso pode ter sido por causa da enorme expectativa após o sucesso de Norma, ou mesmo pela concorrência com Donizetti na época.

    • Com o tempo, no entanto, Beatrice di Tenda passou a ser mais apreciada por cantoras de grande fôlego técnico e expressivo, como Joan Sutherland ou Edita Gruberová, que a trouxeram de volta aos palcos em gravações memoráveis.

    terça-feira, 15 de abril de 2025

    Attila-Santo di patria

    Logo no início da ópera, após a destruição da cidade de Aquileia pelos hunos, Attila encontra Odabella e se impressiona com a sua força e coragem. Ele oferece-lhe uma espada como símbolo de honra. É então que Odabella canta esta ária — que na verdade é uma cavatina com cabaletta (estrutura típica da época, com duas partes contrastantes):

    1. Cavatina – “Santo di patria”:
      Um lamento quase sagrado pela perda do pai, da cidade e da honra nacional.

    2. Cabaletta – “Allor che i forti”:
      Um momento de fogo, onde jura vingança e mostra a força interior de uma mulher que não se rende.

    3. Tradução aproximada do título:

      “Santo da pátria!... Quando os valentes correm para lutar”

    4. aqui canta Violeta Urmana

    ,

    Attila-Abertura

    Attila” é uma das óperas menos conhecidas de Giuseppe Verdi

    Ano de composição:

    1845

    Libreto:

    Escrito por Temistocle Solera (e mais tarde revisto por Francesco Maria Piave), baseado na peça “Attila, König der Hunnen” de Zacharias Werner.

    Estreia:

    17 de março de 1846, no Teatro La Fenice, em Veneza.


    👑 Contexto histórico e dramático:

    “Attila” conta a história do famoso rei dos hunos — o “flagelo de Deus” — e o confronto entre o seu poder bárbaro e o orgulho patriótico romano. Como muitas óperas de Verdi do seu chamado “período patriótico”, tem temas fortes de libertação, identidade nacional e resistência ao domínio estrangeiro — temas que ressoavam profundamente com o público italiano do Risorgimento (movimento pela unificação da Itália).


    🧩 Resumo da trama:

    Ato I – Invasão e resistência

    • Attila invade a Itália com seus exércitos.

    • Ele encontra Odabella, uma mulher guerreira que finge submeter-se a ele, mas que na verdade quer vingar-se da morte do pai, morto pelos hunos.

    • Ezio, um general romano, propõe a Attila dividir o mundo: “Tu a l’universo, Roma a me!” — talvez a frase mais célebre da ópera.

    Ato II – Intriga e alianças

    • Odabella ganha a confiança de Attila.

    • Ezio e Foresto (romano apaixonado por Odabella) conspiram contra os invasores.

    • Foresto duvida da lealdade de Odabella, mas ela garante que está do lado de Roma.

    Ato III – Queda e morte

    • Durante um banquete de casamento, Attila tem pesadelos com um velho (o Papa Leão I) que o ameaça.

    • Odabella, Foresto e Ezio o confrontam e finalmente Odabella mata Attila, vingando seu pai.

    Características musicais:

    • A ópera tem momentos intensos e guerreiros, alternados com árias emotivas e recitativos cheios de tensão.

    • O grande destaque vocal é a personagem de Odabella — soprano dramático, com uma das árias mais desafiadoras e arrebatadoras: “Santo di patria”.

    • O papel de Ezio também é marcante, com sua célebre ária “E’ gettata la mia sorte”.

    • O coro tem papel forte, como em outras óperas patrióticas de Verdi, sendo quase um personagem coletivo que representa o povo oprimido.



    .

    segunda-feira, 14 de abril de 2025

    Ascanio in Alba-Perché tacer degg'io

    ,,Perché tacer degg’io", cantada por Silvia em Ascanio in Alba, é um momento belíssimo de introspecção — uma daquelas peças onde Mozart, mesmo tão jovem, já entende a linguagem da alma.

    🌿 Letra original (em italiano)

    Perché tacer degg’io
    l’affanno ed il martir?
    Se è reo d’amarmi, oh Dio,
    ben sa penar, ben sa, ben sa morir.


    📜 Tradução (livre e poética)

    Por que calar deverei
    a dor e o sofrimento?
    Se é crime amar-te, ó Deus,
    sei bem sofrer, sei bem, sei bem morrer.


    ✨ Interpretação

    Silvia está num momento de angústia interior. Ela sente amor, mas esse amor parece proibido, escondido, e talvez até culpado. Mesmo assim, ela se entrega à dor — com uma dignidade quase sagrada.

    • "Perché tacer degg’io" → por que devo calar? Ou seja, por que não posso expressar meu sofrimento?

    • "Se è reo d’amarmi, oh Dio" → se amar é um crime... ela está disposta a pagar o preço.

    • "ben sa penar, ben sa morir" → sabe bem sofrer, sabe até morrer... uma entrega plena.

    É uma ária que mistura doçura, sofrimento e força moral — algo típico das heroínas pastorais da ópera do século XVIII, mas com o toque mozartiano de intimidade e leveza.

    aqui canta Agnes Baltsa     

    domingo, 13 de abril de 2025

    As alegres comadres de Windsor-Abertura

    ,Otto Nicolai foi um compositor alemão fundador da Orquestra Filarmónica de Viena e muito embora autor de 5 óperas e de diversos trabalhos para orquestra e coro, ficou conhecido sobretudo para versão em opereta da comédia de Shakespeare escrita em 1602, As alegres comadres de Windsor


    A ópera "As Alegres Comadres de Windsor" (em inglês, The Merry Wives of Windsor) é uma obra composta por Otto Nicolai, estreada em 1849. É uma comédia baseada na peça de William Shakespeare de mesmo nome, e tem um clima leve, cheio de enganos, disfarces e situações engraçadas. Vamos ver alguns pontos interessantes:

    🎭 A obra e sua origem

    • Baseada em Shakespeare: A história de "As Alegres Comadres de Windsor" de Shakespeare é uma comédia que gira em torno do personagem Sir John Falstaff, um cavaleiro gordo e cheio de charme, que tenta enganar duas mulheres casadas, Mistress Ford e Mistress Page, para conseguir dinheiro e, quem sabe, conquistar o coração delas. As mulheres, no entanto, são mais espertas do que ele imagina, e acabam dando-lhe uma lição bem-humorada.

    • Comédia de erros: A trama é repleta de disfarces, armadilhas e truques. As mulheres, com suas personalidades fortes, acabam se vingando de Falstaff com muita inteligência e humor, e o final é sempre alegre, com a moral de que a astúcia e a inteligência feminina prevalecem.




    • A obra de Nicolai, embora focada na comédia e nos enganos de Falstaff, tem também uma crítica subtil à sociedade da época, tratando de temas como orgulho, vaidade e o jogo de aparências de uma forma muito acessível ao público.

    sábado, 12 de abril de 2025

    Aroldo-Abertura

    ..Aroldo” é uma das obras menos encenadas e, por vezes, considerada uma “obra de transição” dentro do vasto repertório de Giuseppe Verdi. Embora não tenha o mesmo prestígio de grandes sucessos como La Traviata ou Rigoletto, “Aroldo” revela traços importantes da evolução estilística e dramática do compositor. 

    1. Contexto Histórico e Compositivo

    • Composição e Primeira Produção:
      “Aroldo” foi trabalhada em um período em que Verdi já havia consolidado sua reputação, mas ainda buscava se adaptar às exigências do cenário operístico e às restrições impostas pela censura italiana do século XIX. Muitos estudiosos veem essa obra como um exercício de revisão de ideias e recursos já explorados em obras anteriores, especialmente quando comparada a “Stiffelio”, outra ópera que também tratava de temas íntimos e conflitos morais.

    • Desafios Censórios e Artísticos:
      Assim como outros compositores de sua época, Verdi teve que lidar com limitações impostas pelas autoridades. “Aroldo” reflete parte dessas negociações, onde elementos do enredo e nuances musicais foram ajustados para se adequarem ao gosto e à moral pública, ainda que mantendo a força dramática característica de sua obra.


    2. Enredo e Temáticas

    • Drama Humano e Moral:
      O enredo de “Aroldo” explora conflitos internos e interpessoais, colocando em evidência dilemas morais, questões de honra e o impacto dos sentimentos humanos na vida dos personagens. Ao abordar relações complicadas e crises pessoais, a ópera é marcada por uma profunda carga emocional – característica que Verdi dominava com maestria.

    • Relação com “Stiffelio”:
      Embora haja semelhanças temáticas com “Stiffelio”, “Aroldo” apresenta variações tanto no desenvolvimento dramático quanto no tratamento musical dos personagens. Essa aproximação entre as obras gera, em alguns estudos, um debate sobre o quanto “Aroldo” representa uma releitura ou uma continuação de ideias já presentes na obra anterior, oferecendo uma nova perspectiva narrativa e musical.


    3. Aspectos Musicais e Dramáticos

    • Lirismo e Dramaticidade:
      Verdi, conhecido por sua habilidade em misturar o lirismo com a intensidade dramática, utiliza em “Aroldo” tanto arias expressivas quanto conjuntos orquestrais que ressaltam momentos de tensão e resolução. Esses momentos refletem uma busca pelo equilíbrio entre a música e o drama, permitindo ao público sentir a complexidade emocional dos personagens.

    • Orquestração e Ritmo:
      A orquestração é sofisticada e demonstra o domínio de Verdi ao explorar diferentes texturas sonoras, criando contrastes que realçam tanto a intensidade dos conflitos quanto os momentos de introspecção. As variações rítmicas e os momentos de recitativo contribuem para construir a narrativa de maneira dinâmica e envolvente.


    4. Recepção e Legado

    • Recepção Histórica:
      Embora “Aroldo” nunca tenha alcançado a mesma popularidade de outras óperas veridianas, ela sempre despertou o interesse de críticos e estudiosos por representar uma fase de experimentação e transição no pensamento artístico do compositor.

    • Revitalizações e Estudos Contemporâneos:
      Nas últimas décadas, houve tentativas de reavaliar e reviver “Aroldo” em palcos menores e festivais de ópera, o que permitiu uma redescoberta do seu conteúdo dramático e musical. Essa revitalização tem contribuído para o debate sobre as obras menos conhecidas de Verdi e a sua importância na compreensão da evolução do estilo operístico do século XIX.


    Considerações Finais

    “Aroldo” pode ser encarado como um laboratório criativo onde Verdi experimentou nuances já presentes em outras composições, ajustando elementos que o ajudariam a moldar suas futuras obras-primas. Apesar de sua presença menos frequente nos palcos, o estudo e a interpretação desta ópera oferecem insights valiosos sobre o processo de composição de Verdi, as limitações e possibilidades enfrentadas pelos compositores da época e a interação entre arte e censura.


    sexta-feira, 11 de abril de 2025

    Armida-Abertura

    , A ópera Armida de Tommaso Traetta é uma obra fascinante dentro do repertório operático do século XVIII. Composta em 1771, ela faz parte da tradição das óperas de couraçaria e mitologia, mais especificamente inspirada na história da Armida, uma personagem da Gerusalemme Liberata (Jerusalém Libertada), o épico do poeta italiano Torquato Tasso.


    🎭 Enredo

    A história segue a personagem Armida, uma feiticeira que se apaixona por um cavaleiro cristão, Rinaldo, enquanto tenta seduzi-lo para distrair os cruzados. No entanto, sua paixão se transforma em amor verdadeiro, e ela se vê dividida entre seu dever de destruir Rinaldo e seu amor por ele. O drama é intenso, com temas de conflito interno, luta entre o amor e o dever, e as forças mágicas de Armida.

    🎶 Música

    • Estilo: Traetta foi um dos compositores mais importantes do estilo galante, que era uma reação contra a complexidade excessiva do barroco, buscando uma música mais melódica e expressiva.

    • A ópera Armida é muito apreciada pela sua música emocionalmente rica e dramaticamente eficiente. Os recitativos e as áreas de Armida, especialmente, mostram a habilidade de Traetta em expressar o conflito interno da personagem.

    • A orquestração também é notável, com o uso de cores orquestrais sutis que refletem a magia e a tensão dramática da história.

    🏛️ Importância Histórica

    • Traetta foi uma figura chave na transição entre o barroco e o clássico, e sua obra reflete a mudança de uma ênfase na complexidade da escrita para um foco maior na clareza e na expressividade emocional.

    • Armida foi uma das óperas mais importantes da sua época, e é vista como uma das suas melhores composições, ajudando a consolidar sua reputação.

    🧙‍♀️ O Caráter Mágico e Emocional

    O elemento mágico é central na ópera, já que Armida usa feitiçaria para tentar controlar e manipular os outros personagens, mas sua fragilidade emocional e seu amor verdadeiro acabam por tornar o espetáculo também muito humano. Isso gera uma tensão interessante, pois a música muitas vezes passa da grandeza majestosa de seus poderes mágicos para momentos delicados e vulneráveis de amor.

    🎭 Cenário e Personagens

    Os cenários e as atuações de Armida, como é comum nas óperas de sua época, têm uma dimensão de drama psicológico e fantasia, com a personagem central sendo complexa, não apenas uma vilã, mas uma figura tragicamente dividida entre seu amor e sua missão.


    🎶 Relevância na Ópera Moderna

    Embora a ópera de Traetta não seja tão conhecida como as de outros compositores contemporâneos, como Mozart ou Gluck, ela representa bem o espírito do final do período barroco e início do classicismo. Sua exploração emocional e dramática da personagem Armida ajudou a definir as bases para futuras óperas de grande intensidade emocional

    quinta-feira, 10 de abril de 2025

    Ariadne em Naxos-Ária de Zarbinetta

    Ariadne auf Naxos (1912, revisada em 1916)

    • Libreto de Hugo von Hofmannsthal (o parceiro genial de Strauss).

    • A ópera mistura ópera séria (opera seria) com comédia burlesca, algo extremamente ousado para a época.

    • A ideia central é que, por capricho de um rico anfitrião, duas companhias — uma trágica e uma cômica — devem apresentar suas obras simultaneamente. O resultado: uma mistura surpreendente, às vezes absurda, e no fim... belíssima.

    É uma ópera que reflete sobre a própria arte da ópera, sobre o papel do artista e da mulher, sobre o amor idealizado e o amor vivido. Ariadne, abandonada por Teseu, espera a morte — e entra em cena Zerbinetta, a personagem bufonesca, trazendo leveza, razão prática e uma visão mais “moderna” do amor.


    🎭 A Ária de Zerbinetta“Grossmächtige Prinzessin”

    Aqui está um dos maiores desafios do repertório de soprano coloratura.

    • É brilhante, cheia de fioriture, trilos, escalas rápidas e saltos de oitava. Mas além da técnica, ela exige teatro: humor, perspicácia, charme.

    • Zerbinetta, com seu ar espirituoso e cínico, tenta convencer Ariadne de que o amor é mutável. Que Teseu foi só um, e que sempre virá outro — como aconteceu com ela tantas vezes.

    • A ária tem uma extensão vocal imensa e é estruturada quase como uma miniatura de ópera dentro da ópera. Tem trechos ágeis, cadências quase improvisadas e um final pirotécnico.


    🌟

    • Strauss escreve para a voz feminina com um virtuosismo único, como se pintasse em vidro colorido: frágil e deslumbrante.

    • Zerbinetta não é apenas a alívio cômico: ela representa uma visão moderna da mulher, em contraste com o idealismo romântico e sofrido de Ariadne.

    • A ária é brilhante, mas também irônica. Debaixo das coloraturas há uma mensagem sobre a liberdade feminina e o direito de amar — e deixar de amar — como quiser.

    .

    quarta-feira, 9 de abril de 2025

    Arabella-09-Final

    o dueto final de Arabella… é como um sussurro elegante no fim de um grande baile, onde tudo parece prestes a desabar, mas não: o amor, com toda sua delicadeza e mistério, permanece de pé.

    Depois de uma série de equívocos, mal-entendidos e um quase rompimento, Arabella finalmente reconhece Mandryka como o homem que merece o seu amor — o homem que ela estava à espera desde o começo. O dueto final ocorre no momento em que Arabella, com grande nobreza e ternura, oferece a ele um copo de água — um gesto tradicional de boas-vindas e aceitação no costume croata, que Mandryka havia mencionado antes.

    Esse pequeno gesto carrega um peso simbólico imenso: ela está se entregando a ele, não com paixão escandalosa, mas com dignidade, compaixão e promessa de fidelidade. Um amor maduro, consciente, diferente das paixões passageiras. É ali que o coração da ópera bate mais forte.

    🎼 Musicalmente

    Strauss constrói esse dueto com uma contenção sublime. Nada é grandioso — é como se os instrumentos falassem baixo, em respeito à intimidade do momento. As vozes de Arabella e Mandryka se entrelaçam num diálogo suave, quase suspenso no tempo, como se o mundo à volta deixasse de existir.

    É música que não arrebata com força, mas com gentileza. Ao invés de catarse, oferece consolo. Um dos versos centrais que Arabella canta é:

    "Ich will dir still und rein / mein Leben übergeben..."
    (Quero, calma e puramente, / entregar-te minha vida...)

    Pura entrega. Sem pressa. Sem espetáculo. Apenas amor — sereno, decidido, inteiro.


    Esse final é uma despedida da era romântica — Strauss parece dizer que o amor verdadeiro não precisa de escândalo ou grandes gestos. Ele vive no gesto simples de oferecer um copo de água com as mãos nuas. É também, talvez, uma despedida de uma Viena que está morrendo, de um mundo que vai se apagando, mas onde ainda existe espaço para algo puro..

    aqui cantam Renée Fleming e Thomas Hampson

    Arabella-Preludio act 3

    Arabella é uma ópera encantadora do compositor Richard Strauss, com libreto de Hugo von Hofmannsthal — o último fruto da longa e célebre colaboração entre os dois. Estreou em 1933, em Dresden.

    Aqui vão alguns pontos interessantes sobre ela:

    🎭 Enredo

    A história se passa em Viena, na década de 1860, e gira em torno de Arabella, a filha mais velha da família Waldner, uma jovem que busca um amor verdadeiro em meio à decadência financeira da família. O pai espera casá-la com um homem rico, mas Arabella está à espera do "certo", do seu "Mr. Right", que aparece na figura de Mandryka, um rico e excêntrico aristocrata das regiões balcânicas.

     Como é comum em Strauss, há trocas de identidade, confusões de gênero (a irmã mais nova, Zdenka, é criada como rapaz), e um desfecho que equilibra o drama com um toque de redenção romântica.

    🎶 Música

    A música de Arabella é rica, refinada e lírica, típica de Strauss nos seus momentos mais elegantes. Embora menos grandiosa que Der Rosenkavalier, possui um lirismo íntimo que muitos consideram mais maduro e emocionalmente comedido. Os duetos e árias são belíssimos, sobretudo o final — o dueto entre Arabella e Mandryka, cheio de doçura e resignação.

    🖋️ Curiosidade

    Hofmannsthal morreu antes de completar o libreto, e Strauss teve de finalizar a ópera com base em esboços. Isso dá ao libreto um certo ar de inacabado, mas também um lirismo melancólico que combina com a atmosfera da obra.

    💭 Impressão geral

    Arabella é sobre a busca da pureza num mundo corrompido pelas aparências e pela decadência moral. É mais interior, mais contida, mas também muito comovente para quem se entrega à sua sutileza.

    terça-feira, 8 de abril de 2025

    Apolo e Jacinto-Natus cadit atque Deus

     o dueto “Natus cadit, atque Deus”, momento chave e comovente da ópera Apollo et Hyacinthus, é cantado após a morte de Jacinto, no terceiro ato.

    Trata-se de um lamento pungente, em que Apolo expressa sua dor e transforma Jacinto numa flor. Melia também participa do momento, compartilhando a perda.


    🎭 Tradução aproximada do texto latino:

    Apolo:
    “Natus cadit, atque Deus,
    funus parat et florem creat.”

    "O filho morre, e o deus
    prepara-lhe os funerais e cria uma flor."

    Melia (com Apolo, em diálogo ou eco):

    "Ele cai, e o deus, em dor,
    planta uma flor em memória."


    🌸 Sentido poético:

    O dueto funde o divino com o humano: Apolo, um deus, vive o luto como um mortal. Em vez de vingança ou fúria, há criação — nasce o jacinto, flor símbolo da beleza efêmera e do amor imortalizado pela natureza.

    A música é suave, lírica, contida — uma dor que se expressa mais por ternura do que por desespero.

    segunda-feira, 7 de abril de 2025

    António e Cleópetra-01-Give me my rob

    .Give me my robe” — que momento belíssimo e fatal! Essa ária é o final da Cleópatra na ópera Antony and Cleopatra de Samuel Barber, baseada no Ato V da peça de Shakespeare. É o canto da despedida, da realeza caída que decide morrer com dignidade, vestida para a eternidade.


    🎭 Contexto dramático

    Cleópatra, derrotada, enlutada por António, recusa ser exibida como troféu por César. Decide morrer como rainha, dona do seu destino. Chama suas criadas, pede seu “manto” — “Give me my robe” — e prepara-se para a picada da áspide. A morte torna-se uma cerimônia, um ritual de poder, não de derrota.


    🎶 Características musicais

    • Texto: Retirado quase diretamente de Shakespeare (Ato V, Cena II). Exemplo:

      "Give me my robe, put on my crown; I have
      Immortal longings in me..."

    • Tom: A ária começa com uma serenidade solene, quase etérea. Há uma aceitação tranquila, quase mística. Cleópatra não suplica, afirma.

    • Orquestração: Barber tece uma teia de cordas delicadas, suaves madeiras, e um acompanhamento que cresce em intensidade emocional à medida que a ária se aproxima do fim.

    • Vocalmente: É uma das passagens mais exigentes e sublimes da ópera. A voz precisa equilibrar majestade, resignação e uma ponta de êxtase — Leontyne Price imortalizou essa interpretação na estreia.

    • Aqui quem canta é Carol Vaness

    António e Cleópetra-0-Abertura

     Samuel Barber – Antony and Cleopatra (1966) Libreto: Adaptado por Franco Zeffirelli a partir da tragédia de Shakespeare. Estreia: 1966, abertura do novo Metropolitan Opera House, Lincoln Center, Nova Iorque. 🎼 

    Contexto e ambição Encomendada como a grande obra inaugural do novo Met, com cenários grandiosos, Zeffirelli a dirigir e a desenhar cenografia e figurinos, Leontyne Price no papel de Cleópatra — ou seja, tudo prometia. Barber já era consagrado, conhecido por obras líricas, emotivas e refinadas (Adagio for Strings, Knoxville: Summer of 1915). ⚔️ 

    Problemas na estreia A produção foi... colossal demais. Palcos giratórios, trajes pesadíssimos, coroções, exércitos em cena. Tudo muito mais teatro do que música. O libreto foi criticado por ser demasiado fiel ao texto de Shakespeare, tornando-se pesado e pouco cantável. 

     Resultado: apesar de momentos musicais belíssimos, a obra foi considerada um fracasso e desapareceu dos palcos por anos.  

    Reabilitação Em 1975, Barber reviu a partitura, simplificou orquestrações e estrutura. A nova versão foi bem mais bem recebida. 

     Hoje em dia, há um certo culto em torno da ópera, que é reconhecida pela sua beleza orquestral e pelos momentos líricos intensos — especialmente nas árias de Cleópatra.
     
    Música A escrita vocal é exigente e luxuriante. Cleópatra tem algumas das passagens mais desafiadoras e poéticas da ópera americana do século XX. A orquestração tem a marca de Barber: rica, colorida, sensual. Destaca-se o final — a morte de Cleópatra — como um dos trechos mais tocantes.

    sábado, 5 de abril de 2025

    Andrea Chenier-Un dì all'azzurro spazio

    Andrea Chénier" é uma ópera em quatro atos composta por Umberto Giordano, com libreto de Luigi Illica. Estreou em 28 de março de 1896 no Teatro alla Scala, em Milão. A narrativa é inspirada na vida do poeta francês André Chénier (1762–1794), que foi executado durante a Revolução Francesa.

    Contexto Histórico e Composição

    Situada no período turbulento da Revolução Francesa, a ópera explora temas de amor, idealismo e sacrifício em meio ao caos político. Giordano utiliza melodias intensas e emotivas para refletir as paixões e conflitos dos personagens, incorporando elementos veristas que enfatizam a realidade humana e emocional da história.

    Personagens Principais

    • Andrea Chénier: Poeta idealista e protagonista da história.

    • Maddalena di Coigny: Jovem aristocrata que se apaixona por Chénier.

    • Carlo Gérard: Ex-servo que se torna líder revolucionário e também nutre sentimentos por Maddalena.

    Sinopse

    1. Ato I: No Château de Coigny, durante uma festa aristocrática, Chénier critica a indiferença da nobreza perante o sofrimento do povo. Gérard, então servo, expressa seu descontentamento com a aristocracia e lidera uma invasão de plebeus na festa. 

    2. Ato II: Anos depois, durante o Reino do Terror, Chénier vive como poeta proscrito. Ele encontra Maddalena, agora empobrecida após a morte de sua mãe durante a revolução. Eles confessam seu amor, mas são interrompidos por Gérard, que tenta capturar Chénier. Em um duelo, Chénier fere Gérard, que, arrependido, permite que ele fuja.

    3. Ato III: Chénier é capturado e levado a julgamento sob acusações falsas. Maddalena implora a Gérard que salve Chénier, oferecendo-se em troca. Gérard, movido por remorso, tenta interceder, mas o tribunal condena Chénier à guilhotina.

    4. Ato IV: Na prisão de Saint-Lazare, Chénier aguarda a execução. Maddalena troca de lugar com outra prisioneira para morrer ao lado de Chénier. Juntos, enfrentam a morte declarando seu amor eterno.

    Destaques Musicais

    A ópera é conhecida por suas árias emotivas e exigentes, incluindo:

    • "Un dì all'azzurro spazio": Ária de Chénier no Ato I, onde expressa sua paixão pela liberdade e pela poesia.

    • "La mamma morta": Ária de Maddalena no Ato III, descrevendo a morte de sua mãe e seu desespero.

    • "Nemico della patria": Ária de Gérard no Ato III, refletindo sobre sua desilusão com a revolução.

    • "Andrea Chénier" não possui uma abertura tradicional como algumas óperas. Em vez disso, começa com uma breve introdução orquestral que estabelece o ambiente da cena inicial. Essa introdução retrata a atmosfera decadente de uma festa aristocrática no Château de Coigny, pouco antes da Revolução Francesa. A música inicial reflete a opulência e frivolidade da nobreza, contrastando posteriormente com temas mais sombrios que prenunciam os eventos revolucionários que se desenrolarão ao longo da ópera

    • aqui