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quarta-feira, 23 de abril de 2025

Boris Godunov-Cena da morte

Boris Godunov", de Modest Mussorgsky — uma ópera monumental, densa e cheia de alma.

Baseada na peça de Pushkin e com forte influência da história real do czar Boris Godunov (fim do século XVI/início do XVII), essa obra é uma das mais poderosas representações do drama humano e político já compostas em ópera.

A trama gira em torno da ascensão e queda de Boris Godunov, que assume o trono russo após a morte suspeita do jovem czarevitch Dmitry (filho de Ivan, o Terrível). Boris é um homem atormentado pela culpa e pela dúvida se seu poder é legítimo — um verdadeiro Macbeth russo.

Enquanto isso, há um pretendente falso, o Falso Dmitry, que alega ser o czarevitch sobrevivente, e tenta tomar o trono com apoio externo. Todo o povo, a Igreja, os boiardos (nobres), os monges... todos giram ao redor desse conflito que mistura política, fé, miséria e delírio psicológico.

A grandeza da ópera está também na música — não é ópera no estilo italiano ou francês com árias virtuosísticas. Em vez disso, Mussorgsky cria um fluxo quase contínuo de recitativo realista, inspirado diretamente no ritmo e na entonação da língua russa.

  • O prólogo começa com o povo suplicando a Boris que aceite a coroa — já um retrato da alma coletiva russa.

  • A cena da coroação, com os sinos e o clamor litúrgico, é uma das mais grandiosas da história da ópera.

  • As cenas de Boris com o filho (Fiódor) mostram um lado profundamente humano e paterno do czar.

  • E a cena da loucura de Boris... é de cortar a alma: um homem grande, poderoso, completamente destruído por dentro.

Boris não é vilão nem herói. É um homem trágico. A culpa o consome. A solidão o consome. É como se carregasse o peso de toda a Rússia às costas. Uma figura imensa, tanto vocalmente quanto dramaticamente.

Há duas versões principais: a original de 1869 (mais compacta, focada em Boris) e a revisada de 1872 (com mais cenas, incluindo a trama do Falso Dmitry). Muitas produções misturam ambas

Cena final – Morte de Boris

O momento acontece no último quadro da ópera, muitas vezes chamado de "Morte de Boris" ou "Cena da Morte". Nele, o czar aparece com sinais claros de colapso físico e mental. Está atormentado por visões, vozes, alucinações — sobretudo a do pequeno czarevitch Dmitry, que ele (ou seus aliados) teria mandado matar. A culpa, que já vinha se acumulando desde o início da ópera, atinge aqui um ponto insuportável.

Ele cambaleia entre a lucidez e a insanidade, tentando manter a dignidade como líder, instruindo o filho Fiódor a assumir o trono, enquanto seu corpo e sua mente se despedaçam 

Loucura como desmoronamento

É uma loucura que não grita — é um colapso sombrio, uma agonia cheia de peso moral e existencial. O canto é grave, por vezes quase sussurrado, e a orquestra desenha um fundo denso, sombrio, quase espectral. Boris vê fantasmas, fala com vozes que não estão ali. E depois... morre..Aqui canta  grande     

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