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segunda-feira, 30 de junho de 2025

La Gioconda-Suicídio

A ária "Suicidio!", do quarto ato de La Gioconda de Amilcare Ponchielli, é uma das mais intensas e emocionantes do repertório operístico italiano. É cantada pela protagonista, La Gioconda, num momento de desespero absoluto, e representa o ápice dramático da ópera.


🌑 Contexto dramático

A cena ocorre no quarto ato, chamado "A Ilha das Mortes" (L'isola della morte). Gioconda sacrificou tudo por amor: salvou Laura, a rival que também ama Enzo, e agora está cercada por traições e desesperança. Para proteger a honra e o amor de Enzo, ela opta por tirar a própria vida antes que Barnaba (o vilão) a viole.

Ela está sozinha em cena, com uma faca escondida. O suicídio é a única saída que ela vê para manter sua dignidade.


🎭 Texto original (em italiano)

Suicidio! In un attimo estremo
balenar mi dovrà quest’acciaro!
Ah, pietà di me!
Suicidio!
Non reggo al mio destino!
Coll’onta sul mio crine,
coll’onta sul mio crine
vivere non potrò!

(há mais versos, mas estes já mostram o espírito do momento)


🇵🇹 Tradução aproximada

Suicídio! Num instante supremo
este punhal deverá brilhar para mim!
Ah, piedade de mim!
Suicídio!
Não suporto o meu destino!
Com a desonra sobre minha fronte,
com a desonra sobre minha fronte


aqui canta a grande Renata Scotto 

não poderei viver!.

La gioconda-Abertura,

La Gioconda é uma ópera em quatro atos do compositor Amilcare Ponchielli, com libreto de Arrigo Boito (usando o pseudônimo Tobia Gorrio), baseada na peça Angelo, Tyrant of Padua de Victor Hugo. Foi estreada em 1876 no Teatro alla Scala, Milão.

Visão Geral

La Gioconda é um exemplo exuberante do verismo italiano anterior a Puccini, com elementos ainda fortemente influenciados pelo estilo grandioso de Verdi. É uma ópera intensa, cheia de paixão, intrigas, sacrifícios e mortes trágicas — elementos típicos da ópera italiana do século XIX.

Personagens principais

  • La Gioconda – cantora de rua veneziana (soprano)

  • Enzo Grimaldo – nobre genovês (tenor)

  • Laura Adorno – esposa de Alvise e amante de Enzo (mezzo-soprano)

  • Barnaba – espião e vilão da trama (barítono)

  • Alvise Badoero – inquisidor do Estado (baixo)

  • La Cieca – mãe cega da Gioconda (contralto)

Destaques musicais

  • "Cielo e mar!" – ária de Enzo, um dos trechos mais célebres da ópera.

  • "Suicidio!" – grande ária dramática da Gioconda no quarto ato.

  • "Dance of the Hours" (Dança das Horas) – balé sinfônico do terceiro ato, famoso por ter sido isoladamente muito popular (inclusive parodiado por Disney em Fantasia).

Importância

Apesar de não estar sempre nas temporadas principais dos grandes teatros como La Traviata ou Tosca, La Gioconda mantém um lugar especial no repertório de sopranos dramáticos e é considerada um marco no caminho do drama musical italiano entre Verdi e Puccini..

domingo, 29 de junho de 2025

Candide-Glitter and be Gay

Ana Paula Russo é uma soprano portuguesa nascida em Beja em 1959. Com uma carreira sólida no canto lírico, ela é reconhecida tanto em Portugal quanto internacionalmente

🎓 Formação e Carreira

Ana Paula Russo completou o Curso Superior de Canto no Conservatório Nacional e licenciou-se em Canto pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde também obteve o grau de Mestre em Canto - Performance e Ensino do Canto com classificação máxima. Estudou em Salzburgo e Lucerna com Elisabeth Grümmer e Hugo Diez, e trabalhou com renomados professores como Gino Becchi, Claude Thiolass, Regine Resnick e Marimi del Pozo-

aqui canta de Candide-Glitter and be Gay      de Bernestine 

La Gazza Ladra-Di piacer mi balza il cor

A ária “Di piacer mi balza il cor” é uma das mais cativantes de La gazza ladra, escrita para a protagonista feminina Ninetta, e representa um momento de esperança e amor dentro do drama que se desenrola.

Logo no início da ópera, Ninetta está feliz. Apesar da tensão social em torno dela (ameaças do patrão, preocupações com o pai foragido), ela sente alegria pela chegada do seu amado, Giannetto.

Essa ária transmite o pulsar de seu coração enamorado, cheia de luz e expectativa — e serve para mostrar ao público sua inocência e bondade antes que a tragédia da falsa acusação se instaleDi piacer mi balza il cor,

giunge Giannetto, oh gioia!
Ah, potessi a lui mostrar
l’amor che m’arde ancor!

(Meu coração salta de prazer,
Giannetto chega, oh alegria!
Ah, se eu pudesse lhe mostrar

o amor que ainda me queima!.

Aqui canta Rosa Feola 

terça-feira, 24 de junho de 2025

La Belle Hélène-Quand on est beau d’avoir sa place

No famoso “Trio patriotique” (“Quand on est beau d’avoir sa place”), quem canta são Páris, Menelau e Calchas.

A Helena não participa vocalmente nesse número — ela está presente em cena, mas a estrutura do trio é entre os três homens. O humor aqui depende justamente do contraste entre:

  • a postura solene e “patriótica” que Páris e Menelau tentam encenar, quase como se estivessem num momento heroico,

  • e o Calchas, que age como um tipo de mestre de cerimônias meio cômico, apaziguador e cheio de segundas intenções.

  • A ideia geral do texto do “Trio patriotique” é justamente uma paródia do patriotismo e da honra nacional num momento completamente ridículo e hipócrita.

    Explico o clima da cena para que entendas melhor:

    • Páris e Menelau estão em conflito por causa de Helena — a rivalidade pessoal entre eles é óbvia.

    • Calchas tenta apaziguar os ânimos e disfarçar o que está realmente a acontecer com discursos nobres sobre o dever, a Grécia, a glória e os deuses.

    • O tom da música é marcial, grandioso, quase como um hino — mas o que eles dizem, na prática, é cheio de frases vazias e solenidade falsa.

    Ou seja, o texto usa palavras fortes como “honra”, “pátria” e “dever”, mas só para mascarar o triângulo amoroso e o caos entre eles. Offenbach ironiza a tendência da sociedade da época a exaltar essas virtudes em público, enquanto, nos bastidores, tudo é jogo de aparências.

    👉 Em resumo:
    O texto do trio é uma sátira que mostra como os personagens se escondem atrás do discurso patriótico para fingirem que são nobres e dignos — quando, na verdade, a situação entre eles é absolutamente cómica e cheia de segundas intenções.

Esse momento reforça a sátira de Offenbach contra a hipocrisia e a pompa da sociedade: os homens celebram a própria honra nacional num momento em que, na verdade, todos os valores estão de pernas para o ar.

segunda-feira, 23 de junho de 2025

L'Italiana in Algeri-Cruda sorte

A ária “Cruda sorte! Amor tiranno!” é o número que Isabella canta logo que entra em cena, no Ato I da ópera L’Italiana in Algeri, de Rossini:

Isabella acaba de naufragar e se vê sozinha em solo argelino, separada do seu amado Lindoro. Ela reclama do seu destino cruel (“Cruda sorte!”), mas logo mostra que não vai desistir facilmente e que sabe muito bem como lidar com os homens. Essa alternância entre lamento e determinação dá um tom cómico e corajoso à personagem.

  • É escrita para contralto ou mezzo-soprano, exigindo uma voz com belos graves, agilidade e muito temperamento.

  • Rossini alterna uma introdução mais melancólica e expressiva com a cabaletta mais viva e cheia de coloraturas, que revela o lado astuto e cheio de energia da heroína.

  • A orquestração, cheia de detalhes coloridos (madeiras, cordas pizzicato), dá apoio à agilidade vocal da intérprete.

Por que é famosa?

  • Apresenta perfeitamente a personalidade marcante de Isabella: uma mulher forte, espirituosa e cheia de recursos.

  • Serve como uma carta de apresentação vocal e interpretativa para a cantora que a interpreta — a agilidade e o humor devem estar a todo momento presentes.

  • É um ótimo exemplo do estilo bufo de Rossini, que sabe equilibrar virtuosismo vocal e comédia.

Aqui canta Marilyn Horne
  • Cruda sorte! Amor tiranno!
    Questo è il premio di mia fe’?
    Non v’è orror, terror né affanno
    pari a quel che provo in me.
    Per te solo, o mio Lindoro,
    io mi trovo in tal periglio.
    Da chi spero, o Dio, consiglio?
    Chi conforta il mio dolor?

    Cruel destino! Amor tirano!
    Esse é o prêmio da minha fé?
    Não há terror, medo nem dor
    iguais ao que sinto em mim.
    Somente por ti, ó meu Lindoro,
    me encontro em tal perigo.
    De quem espero, ó Deus, um conselho?
    Quem conforta a minha dor?

..

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Kovanschina-Preludio

A ópera Khovanshchina (ou Kovántchina, em russo Хованщина), de Modest Mussorgsky, é uma obra-prima inacabada do repertório russo — profundamente trágica, carregada de simbolismo histórico, religioso e político. É uma "crônica musical" dos conflitos da Rússia do século XVII, e a sua relevância vai muito além do contexto histórico em que se situa.


Khovanshchina trata da luta pelo poder na Rússia entre três forças:

  1. Os Khovanski – aristocratas conservadores que resistem às reformas.

  2. Os Velhos Crentes (ou cismáticos) – movimento religioso que rejeita as reformas litúrgicas da Igreja Ortodoxa.

  3. Os reformistas de Pedro, o Grande – representados por Golitsin e pelo agente Shaklovity.

No fundo, trata-se do embate entre o velho mundo (feudal, místico, autoritário) e o novo mundo de reformas, ocidentalização e modernidade — que surgirá com Pedro, o Grande, mas ainda ausente da ação da ópera.


  • Mussorgsky morreu antes de terminar a orquestração. A versão mais famosa é a de Rimsky-Korsakov, que suaviza a harmonia e estrutura, mas há também a versão de Shostakovich, considerada mais fiel ao espírito brutal e cru de Mussorgsky.

  • A música alterna entre o sombrio, o ritualístico e o épico, com forte uso de canto litúrgico e modulações modais que evocam a Rússia arcaica.

  • O coro tem papel fundamental — quase um personagem coletivo, como nas tragédias gregas.

  • A ópera culmina numa cena final marcante: o suicídio coletivo dos Velhos Crentes, em meio a um incêndio simbólico, ao som de uma música hipnótica e solene.

  • Príncipe Ivan Khovansky – retrato do autoritarismo decadente.

  • Marfa – uma Velha Crente, apaixonada por Andrei, dona de uma ária sombria e mística.

  • Dosifei – líder religioso dos cismáticos, carismático e imponente.

  • Golitsin – o reformista racionalista, mas moralmente fraco.

  • Shaklovity – representante do novo poder, frio e calculista.

  • Andrei Khovansky – símbolo do conflito entre paixão e dever, entre tradição e mudança.

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quinta-feira, 19 de junho de 2025

Julio Cesar--V’adoro pupille

A ária "V’adoro, pupille" é uma das mais célebres e sensuais de toda a ópera Giulio Cesare in Egitto de George Frideric Handel. Trata-se de uma peça de rara beleza, cheia de sedução e lirismo, situada num momento-chave da dramaturgia.

Contexto dramático

  • Ato: II

  • Personagem: Cleópatra, disfarçada de "Lídia"

  • Situação:
    Cleópatra tenta conquistar Júlio César usando o disfarce de uma sacerdotisa chamada Lídia. Para seduzi-lo, prepara um espetáculo sensual e refinado no seu palácio. A ária "V’adoro, pupille" é o ponto alto desse momento — ela canta enquanto César assiste, encantado.


V’adoro, pupille,
saette d’amore,
le vostre faville
son grate nel sen.

Pietose vi bramo,
languire mi fate,
o luci care,
parlate al cor.

Tradução aproximada:

Adoro-vos, ó olhos,
setas do amor,
vossas centelhas
são doces ao meu peito.

Desejo-vos piedosos,
fazeis-me languir,
ó olhos queridos,
falai ao coração.


🎼 Características musicais

  • Andamento: geralmente Largo ou Larghetto, com andamento calmo e sedutor.

  • Escrita em estilo cantábile, com frases longas, ornamentadas e expressivas.

  • Handel faz uso de uma orquestra dividida:

    • Uma orquestra no palco (musica di scena), que representa o concerto encenado para César;

    • E a orquestra no fosso, que acompanha a voz da cantora (Cleópatra).
      Esse duplo efeito cria uma atmosfera de teatro dentro do teatro, muito rica musicalmente

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Julio Cesar--Abertura

A ópera Giulio Cesare in Egitto (Júlio César no Egito), de George Frideric Handel, é uma das mais celebradas óperas barrocas e uma obra-prima do repertório operístico.


🎭 Informações gerais

  • Título: Giulio Cesare in Egitto (Júlio César no Egito)

  • Compositor: George Frideric Handel (1685–1759)

  • Libretista: Nicola Francesco Haym, baseado em libretos anteriores de Bussani

  • Estreia: 20 de fevereiro de 1724, King's Theatre, Londres

  • Língua: Italiano

  • Gênero: Ópera séria em três atos


📜 Enredo resumido

A ópera  passa se  no Egito, após a vitória de Júlio César sobre Pompeu. É uma história de política, paixão e vingança, baseada em personagens históricos, mas com bastante liberdade poética.

Personagens principais:

  • Giulio Cesare (Júlio César) – general romano

  • Cleopatra – princesa egípcia ambiciosa e astuta

  • Tolomeo – irmão e rival de Cleópatra

  • Cornelia – viúva de Pompeu

  • Sesto (Sesto Pompeo) – filho de Pompeu, busca vingar a morte do pai

Resumo do enredo:

  • César chega ao Egito e se depara com o assassinato de Pompeu, entregue como um gesto de boa vontade por Tolomeo.

  • Cornelia e Sesto juram vingança.

  • Cleópatra, disfarçada de "Lídia", tenta seduzir César para ganhar apoio contra seu irmão.

  • Uma série de intrigas se desenrola, com Cleópatra e César apaixonando-se de verdade.

  • No final, Tolomeo é derrotado, Cleópatra é coroada rainha, e César parte vitorioso.

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quarta-feira, 11 de junho de 2025

Iolanta-Otchego eto prezhde ne znala?

Otchego eto prezhde ne znala?"

("Por que nunca soube disso antes?")
🟡 Cena da descoberta da cegueira  da opera Iolanta de Tchaikovsky

  • Iolanta começa a perceber, pela primeira vez, que algo lhe falta. É um momento lírico e psicológico profundo, com tensão crescente e melodia fluida.

  • Uma das peças mais emotivas e introspectivas da ópera.

  • aqui canta Ekaterina Goncharova

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Il turco in Italia-Non si da follia

Nessa ária, Fiorilla afirma seu desejo de liberdade amorosa, rejeitando a monotonia de amar apenas uma pessoa. A metáfora da abelha, do vento e do rio — que nunca se fixam num só lugar — reforça essa ânsia por variedade, mudança e espontaneidade emocional. É um momento de humor e de virtuosismo vocal, com muitas passagens ágeis típicas do Rossini buffo.


Uma das árias mais célebres de Rossini. Fiorilla celebra o prazer de flertar, cheia de coloraturas, agilidade e travessura vocal.


Não há loucura maior
do que amar um único objeto:

o prazer do dia a dia traz tédio,
não deleite.

A abelha, o vento e o rio
não amam só uma flor;

assim quero eu, coração volúvel,
amar assim—e querer mudar!”

Aqui canta Eva Zalenga ..

Il trovatore-Per me,ora fatale

o trecho “Per me, ora fatale”, cantado pelo barítono Conte di Luna no Ato III de Il Trovatore. É um momento intenso de possessividade e paixão desequilibrada.

Nessa curta mas poderosa ária, o Conde oscila entre o desejo e a raiva. Ele vê Leonora como um troféu, e o fato de ela escolher Manrico o enlouquece.

Hora fatal para mim!
Esse raio sereno (o olhar dela)
rouba do meu peito
toda a paz do coração!

Aquele sorriso abençoado,
ao qual sempre meu destino
se volta tremendo,
desperta em mim a fúria!


Il Trovatore-E deggio e posso crederlo

. O conde entra em cena dizendo "Não... nunca ", declarando que entra ali para que ela seja dele. 


 Avançando em direcção a Leonora, mas Manrico interpõe-se de repente entre ambos. 

Inicia-se então um trio, quando Leonora, canta "E deggio e posso crederlo" "Devo e posso acreditar ? vejo-te a meu lado será isto um sonho, um êxtase ou um encontro sobrenatural ? O meu coração arrebatado e surpreendido não pode resistir a tanto júbilo Desceste do céu ou estou no céu contigo ?" 

pois tanto ela como Luna julgavam que Manrico havia morrido. 

 Violenta troca de palavras entre os rivais, porém o aparecimento dos soldados de Manrico, ajuda a que Manrico fuja com Leonora. 

 Aqui cantam Milnes - Pavarotti e Eva Marton

sábado, 7 de junho de 2025

I due Foscari (X)

A segunda cena do 3ºacto começa com o Doge no seus aposentos chorando a partida do filho enquanto Lucrecia lhe vem dizer que o filho tinha morrido.

Afinal o verdadeiro culpado havia confessado e crime e o seu filho tinha morrido em vão
Depois dela sair aparece o Concelho dos Dez que pede ao Doge para abdicar.

DOGE:
Egli ora parte! . . . Ed innocente parte! . . .
Ed io non ebbi per salvarlo un detto! . . .
Morte immatura mi rapia tre figli!
Io, vecchio, vivo
per vedermi il quarto
tolto per sempre da un infame esilio!

Oh, morto fossi allora,
che quest'inutil peso
sul capo mio posava!
Almen veduto avrei
d'intorno a me spirante i figli miei!
Solo ora sono! . . . e sul confin degli anni
mi schiudono il sepolcro atroci affanni.



DOGE:
Barbarigo, che rechi!

BARBARIGO:
Morente
a me un Erizzo inviò questo scritto.
Da lui solo Donato trafitto
ei confessa, ed ogn'altro innocente . . .

DOGE:
Ciel pietoso! Il mio affanno hai veduto!
A me un figlio volesti reso!


LUCREZIA:
Ah, più figli, infelice, non hai.
Nel partir l'innocente spirò . . .

DOGE:
Ed il cielo placato sperai!
Me infelice! Più figlio non ho!


LUCREZIA:
Più non vive! L'innocente
s'involava a'suoi tiranni;
forse in cielo degli affanni
la mercede ritrovò.
Sorga in Foscari possente
più del duolo or la vendetta . . .
Tanto sangue un figlio aspetta,

quante lagrime versò..

I due Foscari-Abertura

A ópera I due Foscari (Os Dois Foscari) é uma das obras mais sombrias e intensamente trágicas de Giuseppe Verdi, composta em 1844, baseada em um drama de Lord Byron. É a sexta ópera de Verdi e marca um momento de maturação expressiva e emocional em sua carreira, mesmo ainda dentro da estética do bel canto tardio.


⚖️ Enredo em resumo

Ambientada na Veneza do século XV, a ópera gira em torno de dois personagens históricos:

  • Francesco Foscari, o idoso doge de Veneza (o mais alto magistrado da República),

  • E seu filho, Jacopo Foscari, acusado de traição e exilado injustamente.

A tensão central é o conflito entre o dever de Estado e os laços de sangue. Francesco, como Doge, é obrigado a sancionar o exílio de seu próprio filho, mesmo sabendo que ele é inocente. Jacopo, por sua vez, definha física e psicologicamente sob a injustiça, enquanto sua esposa Lucrezia Contarini luta desesperadamente para salvar o marido.

Temas centrais

  • A impiedade da política,

  • A tragédia familiar,

  • O sofrimento silencioso do poder,

  • A decadência moral sob a aparência da honra republicana.

Características musicais

Verdi aqui começa a mostrar traços de sua força dramática madura:

  • Orquestração mais sombria e dramática, com uso expressivo de metais e cordas graves.

  • Árias e ensembles densos, carregados de pathos. Por exemplo:

    • A ária de Jacopo: "È sogno? o realtà?" é um dos momentos mais emocionantes da ópera, retratando seu desespero e confusão.

    • Lucrezia tem momentos de brilho vocal heroico, à semelhança de outras heroínas verdianas (como Abigaille ou Elvira).

    • O Doge, Francesco, canta a magnífica e trágica "Questa è dunque la giustizia?" — lamento profundo de um pai e magistrado ao mesmo tempo.

Personagens principais

  • Francesco Foscari (barítono) – símbolo da impotência moral diante do poder.

  • Jacopo Foscari (tenor) – mártir político e emocional.

  • Lucrezia Contarini (soprano) – figura forte e passional, que antecipa muitas das grandes heroínas de Verdi.

  • Loredano (baixo) – o vilão político, representante da impiedade do sistema.

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sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guilherme Tell -Sois immobile

Sois immobile" (Ato III)

Em português: "Fica imóvel"
(Tell ao filho antes de atirar a flecha na maçã)

  • Momento dramático e tenso.

  • Um exemplo de contenção emocional e intensidade.

  • Fala mais pela tensão do que por virtuosismo vocal.

  • Guilherme Tell foi forçado a atirar a seta na maçã para proteger a vida do seu filho — e, simbolicamente, para desafiar a autoridade opressora.

  • O governador austríaco Gessler impôs um decreto: todos os suíços deveriam curvar-se perante seu chapéu, colocado em público como símbolo de autoridade. Guilherme Tell, homem livre e orgulhoso, recusou-se a fazê-lo.

    Como punição, Gessler não o executou imediatamente. Em vez disso, impôs um castigo cruel:

    “Já que és tão hábil com o arco, irás provar: coloca uma maçã na cabeça do teu filho e acerta-a com uma única flecha. Se errares, ele morrerá.”

    aqui canta  Thomas Hampson

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Guilherme Tell-Asile héréditaire

A ópera Guilherme Tell (ou Guillaume Tell, no original francês) é uma obra-prima do compositor italiano Gioachino Rossini, estreada em 1829, na Ópera de Paris. É a última ópera que Rossini compôs — e uma das mais ambiciosas da sua carreira. A partir dela, ele praticamente se retirou do palco operático, embora tenha vivido por mais de três décadas depois.

Baseia-se na peça homônima de Friedrich Schiller, e conta a história lendária do herói suíço Guilherme Tell, símbolo da resistência à opressão austríaca no século XIV.

  • Ato I: Introdução bucólica e festiva. A Suíça vive sob o jugo austríaco. Tell recusa-se a se submeter.

  • Ato II: O amor entre Arnold (filho de um patriota suíço) e Mathilde (princesa austríaca) é um conflito político e emocional.

  • Ato III: A famosa cena da maçã: Tell é forçado a atirar uma flecha sobre a cabeça do próprio filho.

  • Ato IV: Os suíços se rebelam. Tell mata Gessler (o tirano austríaco) e a liberdade triunfa.



Asile héréditaire" (Ato IV)

Em português: "Asilo hereditário"

  • Uma das árias mais desafiadoras do repertório tenoril.

  • Repleta de passagens virtuosísticas e agudos até o Dó sustenido (C♯5).

  • Arnold canta seu amor à pátria e sua decisão de lutar por ela.

  • Rossini eleva o drama ao máximo com uma escrita lírica e heroica.

  • Aqui canta Bryan Hymel

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quinta-feira, 5 de junho de 2025

Airam Hernández

Airam Hernández é um tenor lírico espanhol natural de Tenerife, nas Ilhas Canárias, amplamente reconhecido pela sua versatilidade vocal e presença em palcos internacionais de ópera.

Hernández iniciou a sua formação musical como trompista no Conservatório de Tenerife, antes de se dedicar ao canto lírico. Concluiu os seus estudos vocais com distinção no Conservatori del Liceu, em Barcelona, onde também obteve dois mestrados em música. Posteriormente, integrou o Opera Studio e o Ensemble da Ópera de Zurique, onde participou em várias produções, incluindo Falstaff, La Traviata, Lucia di Lammermoor,

Destaca-se a sua participação na estreia mundial de Sardanapalo, de Franz Liszt, com a Staatskapelle Weimar, e no papel de Enrico Caruso em Caruso a Cuba, de Micha Hamel, na Dutch National Opera, performance que lhe valeu o Prémio Schaunard para Melhor Performance Individual nos Países Baixos.,

Aqui canta Salut! demeure chaste et pure dá ópera Fausto

Na ópera, esta ária aparece no Ato III. Faust, rejuvenescido pelo pacto com Méphistophélès, contempla a casa onde vive Marguerite, a jovem por quem se apaixonou.

Ele não a vê ainda — apenas o lugar que ela habita. A ária é um tributo à pureza, inocência e idealização do amor. Faust está tomado por uma admiração quase sagrada, e isso transparece em cada frase da música.

Salve! morada casta e pura,
Ó santuário, doce lembrança!

Quanta riqueza neste pobre abrigo!

Morada casta, ar puro, nobreza, silêncio… 

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terça-feira, 3 de junho de 2025

Giovanna d'Arco-O fatidica foresta

A ária “O fatidica foresta” é um dos momentos mais tocantes da ópera Giovanna d'Arco de Giuseppe Verdi — e talvez o mais revelador da alma de sua protagonista.

Essa ária surge no primeiro ato, quando Giovanna se encontra sozinha na floresta — um local sagrado e misterioso, onde ouve vozes celestiais que a convocam a cumprir uma missão divina.

Mas esse chamado não vem sem angústia: ela ama Carlo (o rei), mas sente que para cumprir seu destino precisa renunciar ao amor humano.

A atmosfera é de recolhimento, hesitação e elevação espiritual. Não é uma ária triunfante, mas sim confessional e repleta de conflito interior.

Ela começa com um recitativo sombrio, quase como uma oração:

"O fatidica foresta,
ove ignota a me la sorte
una voce mi svelò..."

“Ó floresta fatídica,
onde o destino, desconhecido para mim,
me revelou uma voz…”

Aqui, ela reconhece o lugar como sagrado e assombrado — o ponto onde o divino tocou sua alma.

“Dell’amor la fiamma io sento,
ma il mio cor la spegnerà.”

“Sinto a chama do amor,
mas meu coração a apagará.”

Aqui está a essência do dilema de Giovanna: amar e, ainda assim, escolher o sacrifício.

“O fatidica foresta” pode ser vista como o coração místico da ópera, onde Joana passa da menina sonhadora à enviada de Deus, ao custo de tudo que é humano nela.

É um momento que ressoa com quem já enfrentou um chamado maior, mesmo que isso custasse renúncia, solidão, ou amor perdido., aqui cant     

domingo, 1 de junho de 2025

Gianni Schicchi-Oh Buoso Buoso

Gianni Schicchi! Uma obra-prima cómica de Giacomo Puccini, estreada em 1918, que é a única comédia do compositor (faz parte do Trittico, junto com Il Tabarro e Suor Angelica). 

Baseada em um episódio da Divina Comédia de Dante, na parte do Inferno, conta a história do esperto e irreverente Gianni Schicchi, que, para ajudar a sua filha Lauretta e o jovem Rinuccio a casarem, engana uma família gananciosa, falsificando o testamento do recém-falecido Buoso Donati..

Gianni Schicchi não tem uma abertura tradicional, como as que encontramos nas óperas do século XIX. Em vez disso, a música começa imediatamente com uma introdução orquestral curta e enérgica 

Este começo dá o tom da ópera: engraçado, ligeiramente sombrio e profundamente teatral. O ouvinte é lançado diretamente no momento da morte de Buoso Donati, com a família já em luto fingido, pronta para se devorar por herança.