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sábado, 30 de agosto de 2025

Os Pescadores de pérolas-Au Fond Du Temple Saint

.O dueto "Au fond du temple saint" (em português, "No fundo do templo santo") é, sem dúvida, o trecho mais célebre da ópera Os Pescadores de Pérolas (Les pêcheurs de perles) de Bizet.

Contexto dramático

  • Surge no Ato I, quando os dois amigos, Nadir (tenor) e Zurga (barítono), relembram um episódio passado: ambos viram, no templo, uma sacerdotisa velada (Leïla), e ambos se sentiram imediatamente atraídos por ela.

  • No entanto, para preservar a amizade, fizeram um juramento de renunciar a esse amor.

  • O dueto é, então, uma celebração da amizade — o vínculo masculino que se coloca acima da paixão.

  • Ironia dramática: Leïla voltará a aparecer, e Nadir acabará cedendo ao amor, quebrando o pacto.

Caráter musical

  • A música é muito lírica e equilibrada, construída de forma quase simétrica.

  • Os dois cantores começam alternando as frases, até se unirem em belos paralelismos vocais, num tecido de grande doçura e calor melódico.

  • A orquestração é leve, com uma atmosfera sonhadora, quase como uma memória idealizada.

  • Musicalmente, transmite uma sensação de nostalgia e união fraterna, reforçada pela fusão das vozes.

Importância

  • O dueto ganhou vida própria fora da ópera: é cantado em concertos, gravações e recitais, muitas vezes independentemente do contexto dramático.

  • Tornou-se um símbolo universal da amizade masculina, apesar de, na trama, essa amizade ser abalada pela paixão.

É curioso: Bizet, ainda jovem, conseguiu criar aqui uma melodia de tal força lírica que ultrapassou os limites da própria ópera — é quase um “hit” do repertório lírico..Aqui cantam Andrea Bocelli e Bryn Terfel
   

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Orfeu e Euridice-Che faro senza Euridice

..A ária “Che farò senza Euridice?” é talvez o coração de Orfeo ed Euridice e uma das páginas mais célebres de toda a ópera do século XVIII.

Contexto dramático:
Surge no Ato III, depois de Orfeu ter desobedecido à ordem dos deuses e olhado para Eurídice antes de saírem dos Infernos. Nesse instante, ela morre de novo diante dele. Orfeu então se vê devastado, abandonado no vazio, e canta este lamento.

Características musicais:

  • A melodia é simples, quase despojada, mas de uma intensidade emocional rara.

  • Não há virtuosismo vocal, mas sim uma linha clara, repetitiva, que traduz a obsessão da dor.

  • A música oscila entre resignação e desespero contido — é uma dor que não se explode em fúria, mas se mantém em suspensão.

  • Essa simplicidade foi a revolução de Gluck: em vez de exibir a voz do cantor, a ária exprime apenas o sentimento.

Receção e legado:

  • Tornou-se um dos lamentos mais conhecidos da ópera.

  • Foi cantada por contraltos, mezzos, tenores e até sopranos ao longo dos séculos, cada um dando sua cor.

  • É um símbolo daquilo que a música pode fazer: transmitir a dor universal da perda sem precisar de ornamentos.

Em suma, “Che farò senza Euridice?” é quase uma pergunta eterna do ser humano diante da ausência: como viver sem quem se ama? 

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O Morcego-Irmãozinhos irmãzinhas


A ária “Brüderlein, Schwesterlein” (Irmãozinhos, irmãzinhas) de Die Fledermaus é um dos momentos mais emblemáticos e ternos da opereta de Johann Strauss II.

Aqui estão alguns pontos sobre ela:

  • Situação dramática:

    • Surge no segundo ato, durante o grande baile na casa do príncipe Orlofsky.

    • Depois de tantas confusões de identidade e disfarces, os personagens se reúnem à mesa e, com taças na mão, cantam esse brinde coletivo.

    • É um momento em que as intrigas ficam em segundo plano: todos celebram juntos a amizade, a alegria de estar reunidos e o espírito festivo.

  • Caráter musical:

    • É uma valsa lenta, suave e envolvente, bem no estilo de Strauss.

    • A melodia é calorosa, quase intimista, convidando tanto ao canto coletivo quanto à sensação de confraternização.

    • A simplicidade da melodia contrasta com a sofisticação do baile: é como se, por alguns minutos, todos estivessem unidos por algo sincero.

  • Texto e espírito:

    • A letra fala de brindes fraternos: “Irmãozinhos, irmãzinhas, tomemos juntos o copo de vinho...”.

    • A ideia central é a união e a amizade — uma espécie de celebração da vida em comunidade.

  • Impacto cénico:

    • Frequentemente encenada com os personagens sentados lado a lado, copos erguidos, reforçando o sentimento de comunhão.

    • É tão marcante que muitas vezes é cantada isoladamente em concertos, como símbolo do charme da opereta vienense.

Diria que “Brüderlein, Schwesterlein” é quase o coração humano de O Morcego: depois da leveza cômica e antes das revelações finais, surge essa pausa lírica e calorosa, em que se canta a alegria de simplesmente estar junto, de brindar à vida..

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O Caçador furtivo-O Coro dos Caçadores

..O Coro dos Caçadores (Jägerchor), do 3.º ato de O Caçador Furtivo, é um dos trechos mais conhecidos da ópera — daqueles que saíram do teatro e passaram a ser quase um “cartão-postal” musical do romantismo alemão.

🎶 Função na ópera

  • Surge no início do último ato, antes do torneio de tiro.

  • É cantado por um grupo de caçadores que regressam da caça, celebrando a vida ao ar livre, o prazer da floresta e o orgulho do ofício.

  • Serve como respiro luminoso e enérgico depois das tensões do ato anterior (o sombrio Wolfsschlucht). 

terça-feira, 12 de agosto de 2025

O Cavaleiro da Rosa-Die Überreichung der silbernen Rose

--A “Presentation of the Rose” (Die Überreichung der silbernen Rose) é um dos momentos mais célebres e comoventes de O Cavaleiro da Rosa de Richard Strauss — e também um dos trechos mais icónicos da ópera do ponto de vista orquestral e vocal.  

A cena acontece no Ato II:
  • Octavian chega à casa de Sophie para cumprir o ritual de entregar a rosa de prata em nome do Barão Ochs, como tradição aristocrática para formalizar o noivado.

  • Quando Octavian vê Sophie pela primeira vez, há uma atração imediata e recíproca.

  • O momento é, portanto, duplo: oficialmente cerimonial e protocolar, mas intimamente carregado de emoção.

  • aqui cantam Anne Sophie von Otter (Octavian) and Barbara Bonney (Sophie

  •  Anne Sophie von Otter (Octavian) and Barbara Bonney (Sophie

  • Anne Sophie von Otter (Octavian) and Barbara Bonney (Sophie).Anne Sophie von Otter (Octavian) and Barbara Bonney (Sophie).

  

O Cavaleiro da Rosa-00-Preludio

-- A ópera O Cavaleiro da Rosa (Der Rosenkavalier) é uma comédia lírica em três atos composta por Richard Strauss, com libreto de Hugo von Hofmannsthal, estreada em 26 de janeiro de 1911 na Ópera de Dresden.

Depois do êxito dramático e intenso de Salome (1905) e Elektra (1909), Strauss e Hofmannsthal decidiram criar algo mais leve e nostálgico, inspirado nas óperas cômicas de Mozart, mas com um toque vienense.

Embora se passe no século XVIII, a obra é, na verdade, um retrato afetivo da Viena aristocrática, com a sua elegância e decadência.

Enredo resumido

A ação decorre em Viena, por volta de 1740.

  1. Ato I

    • A Marechala (Marschallin), uma aristocrata, mantém um romance com o jovem conde Octavian.

    • O primo da Marechala, o barão Ochs, pede-lhe ajuda para levar a oferta matrimonial (um presente cerimonial de uma rosa prateada) à jovem Sophie, sua noiva prometida.

    • Octavian é escolhido como “cavaleiro da rosa”, mas quando conhece Sophie, os dois apaixonam-se imediatamente.

  2. Ato II

    • Octavian entrega a rosa prateada a Sophie num momento de pura poesia musical (“Presentation of the Rose”).

    • Sophie recusa casar com o grosseiro Ochs.

    • Octavian arma um plano para desmascarar o barão.

  3. Ato III

    • Octavian e Sophie conseguem expor Ochs como ridículo e interesseiro.

    • A Marechala, percebendo que Octavian ama Sophie, renuncia com dignidade e deixa que os dois fiquem juntos.

    • O trio final (“Hab’ mir’s gelobt”) é um dos momentos mais belos e melancólicos da ópera, onde se fundem amor, despedida e aceitação.

domingo, 10 de agosto de 2025

Forza del Destino - Pace, pace mio Dio

A ária "Pace, pace, mio Dio!" é uma das peças mais emocionantes e intensas do repertório operístico, extraída do último ato da ópera "La forza del destino" de Giuseppe Verdi. 

Interpretada pela personagem Leonora, essa ária encapsula desespero, resignação e um desejo profundo por paz, tanto interna quanto externa.


No início do segundo quadro do último acto, Leonora, pálida e desfigurada, sai da gruta e dirige-se para o sítio onde todas as semanas o Padre Guardião lhe deixa os alimentos.
 O isolamento não lhe trouxe a desejada paz de espírito.

No momento em que Leonora canta essa ária, ela está escondida em uma caverna, vivendo como eremita para expiar suas dores e evitar a perseguição de seu irmão Don Carlo, que busca vingança pela morte do pai. Ela clama por paz após uma vida marcada por sofrimento e tragédia, refletindo sobre seu destino cruel e sua fé em Deus.

Estrutura Musical e Emoção

  1. Abertura introspectiva:

    • A ária começa suavemente, com um tom quase de oração, à medida que Leonora sussurra sua súplica por paz. A melodia é delicada, introspectiva e carregada de lirismo.
  2. Crescendo emocional:

    • À medida que a ária avança, a intensidade emocional cresce. Leonora relembra seu amor por Alvaro, reconhecendo que seu destino cruel a separou dele para sempre. O contraste entre o desejo por paz e a realidade de sua dor dá à peça uma dinâmica extremamente dramática
    • O ápice ocorre com o clamor desesperado "Maledizione!", onde Leonora amaldiçoa sua sorte trágica. Esse momento é frequentemente destacado como um dos mais poderosos na literatura operística
    • Ainda sofre e ama, Alvaro, io t'amo. E su nel cielo è scritto: Non ti vedrò mai più! como quando se retirou do mundo e implora a Deus que lhe dê a graça da morte. Oh Dio, Dio, fa ch'io muoia; Che la calma può darmi morte sol. Invan la pace qui sperò quest'alma In preda a tanto duol. 

Ouve-se um ruído e a eremita volta a esconder-se na gruta Anna Tomowa-Sintow canta esta ária, um dos seus papéis favoritos

Axelle Fanyo

,, Há dias ouvia cantar e fiquei encantado,nunca tinha ouvido 

Axelle Fanyo é uma soprano francesa de destaque, nascida em 1989, filha de pai togolês e mãe antillana, e crescida em Seine-Saint-Denis .

Formação e Reconhecimento

  • Estudou musicologia na Sorbonne e, desde os cinco anos, aprendeu violino, primeiro no Conservatoire d’Aubervilliers, mas só optou pelo canto lírico aos 21 anos

  • Ingressou no Conservatoire National Supérieur de Musique et de Danse de Paris, onde obteve o Mestrado em Canto sob a orientação de Glenn Chambers

Carreira e Repercussão

  • Laureada em diversos concursos, incluindo o Grande Prémio Nadia e Lili Boulanger (2021), prémio Kaleidoscope e o Prémio Jovem Artista no Concurso Internacional de Mélodie Francesa em Toulouse 

Principais Papéis e Destaques Recentes

  • Em 2023/24, estreou-se em papéis importantes como Tosca no Théâtre Impérial de Compiègne, Luisa Miller de Verdi em Avignon, e a Mãe na estreia mundial da ópera contemporânea Justice, de Hèctor Parra, em Genebra 

  • Interpretou La Damoiselle élue de Debussy na Philharmonie de Paris, com a Orchestre de Paris conduzida por Esa-Pekka Salonen, que a convidou depois para o papel de Refka na ópera Adriana Mater (Saariaho), apresentada com a San Francisco Symphony em produção de Peter Sellars 

  • Foram também disponibilizados recitais com repertório diversificado, já incluindo Brahms, Mahler, Strauss, Poulenc, além de colaborações com pianistas como Julius Drake, Kunal Lahiry e Adriano Spampanato 

  • aqui canta da Butterfly -Un bel di vedremo

     Dove sono das Bodas de  Figaro

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Cherubini-Medeia-0-Abertura

Luigi Cherubini – Médée (1797)

  • A mais célebre das “Medeias” no repertório lírico.

  • Composta em francês, estreou em Paris (Théâtre Feydeau).

  • Baseada na tragédia de Eurípides e também na peça de Pierre Corneille.

  • É uma ópera de forte cunho trágico-dramático, em que a personagem principal domina absolutamente a cena.

  • Tornou-se famosa no século XX graças a Maria Callas, cuja interpretação redefiniu o papel.

  • Algumas versões foram traduzidas para italiano, especialmente nas montagens com Callas.

  • A orquestração é poderosa, com momentos de tensão intensos e vocalmente exigentes.

🔹 Destaque: Aria final "Dei tuoi figli la madre" (na versão italiana) — um dos momentos mais pungentes da história da ópera...

Medeia-E che io son Medea

Desfecho da obra prima do compositor Luigi Cherubini (1760-1842), legendado em português. Nesse trecho MedDesfecho da obra prima do compositor Luigi Cherubini (1760-1842), legendado em português. Nesse trecho Medeia toma coragem para lançar sua vingança final contra Jasão , que a abandonou , após provocar a morte de Glauce, sua rival. Medea - Leonie Rysanek Neris - Nadine Denize Jasão - Veriano Luchetti Condutor Serge Baudo - 1976(LI) Orquestra - Orchestra de Lyon

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Maria di Rohan-Alma Soave E Cara

A ária “Alma soave e cara” é, sem dúvida, um dos momentos mais sublimes e belos de Maria di Rohan

🎵 “Alma soave e cara”

  • Cantada por: o Duque di Chevreuse

  • Ato: I

  • Tipo: Romanza / Cavatina

  • Contexto dramático: Chevreuse reencontra Maria depois de muito tempo e, tomado pela emoção, exprime a doçura da sua amada e a dor de ainda amá-la.

  • É uma declaração de amor pura, melancólica e sincera — cheia de lirismo e nobreza.

Características musicais:

  • Melodia ampla e fluente, típica do bel canto maduro.

  • Frases longas, de fôlego emocional, que exigem elegância, controle e legato impecável do tenor.

  • A música é contida, quase íntima, mas carrega uma carga de emoção profunda, como se Chevreuse cantasse apenas para Maria (e para si mesmo).

Trecho do texto (em italiano):
"Alma soave e cara,
d’amor pegno celeste,
se in seno ancor m’avesse
pietade almen per me..."

🪶 A letra é simples, mas profundamente tocante — expressa amor, esperança e sofrimento sem exagero.


🧭 Valor dramático:

  • Humaniza Chevreuse, que poderia ser apenas o “amante” no triângulo. Aqui ele se mostra vulnerável, sensível e digno.

  • Contrasta com a dureza que surgirá depois, quando o drama se intensificar.

  • É também um respiro lírico antes do desenrolar da tragédia.

Em resumo:

“Alma soave e cara” é um dos grandes momentos de Maria di Rohan — simples na forma, mas profundo no sentimento. Representa o melhor do estilo de Donizetti quando quer criar emoção sem excessos, com delicadeza e nobreza...

Aqui canta Jerry Hadley