A ópera Khovanshchina (ou Kovántchina, em russo Хованщина), de Modest Mussorgsky, é uma obra-prima inacabada do repertório russo — profundamente trágica, carregada de simbolismo histórico, religioso e político. É uma "crônica musical" dos conflitos da Rússia do século XVII, e a sua relevância vai muito além do contexto histórico em que se situa.
Khovanshchina trata da luta pelo poder na Rússia entre três forças:
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Os Khovanski – aristocratas conservadores que resistem às reformas.
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Os Velhos Crentes (ou cismáticos) – movimento religioso que rejeita as reformas litúrgicas da Igreja Ortodoxa.
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Os reformistas de Pedro, o Grande – representados por Golitsin e pelo agente Shaklovity.
No fundo, trata-se do embate entre o velho mundo (feudal, místico, autoritário) e o novo mundo de reformas, ocidentalização e modernidade — que surgirá com Pedro, o Grande, mas ainda ausente da ação da ópera.
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Mussorgsky morreu antes de terminar a orquestração. A versão mais famosa é a de Rimsky-Korsakov, que suaviza a harmonia e estrutura, mas há também a versão de Shostakovich, considerada mais fiel ao espírito brutal e cru de Mussorgsky.
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A música alterna entre o sombrio, o ritualístico e o épico, com forte uso de canto litúrgico e modulações modais que evocam a Rússia arcaica.
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O coro tem papel fundamental — quase um personagem coletivo, como nas tragédias gregas.
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A ópera culmina numa cena final marcante: o suicídio coletivo dos Velhos Crentes, em meio a um incêndio simbólico, ao som de uma música hipnótica e solene.
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Príncipe Ivan Khovansky – retrato do autoritarismo decadente.
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Marfa – uma Velha Crente, apaixonada por Andrei, dona de uma ária sombria e mística.
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Dosifei – líder religioso dos cismáticos, carismático e imponente.
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Golitsin – o reformista racionalista, mas moralmente fraco.
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Shaklovity – representante do novo poder, frio e calculista.
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Andrei Khovansky – símbolo do conflito entre paixão e dever, entre tradição e mudança.
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