"Ah! non credea mirarti" é o coração lírico e emocional de La sonnambula, uma das mais belas e intensas do repertório do bel canto. É um momento de doçura resignada, de tristeza elegante, onde Amina canta à flor da alma, sem exageros dramáticos — mas com melancolia sincera.
Contexto dramático
Essa ária acontece no final da ópera, quando Amina, ainda incompreendida por todos, vê o seu noivado com Elvino desfeito por causa de seu sonambulismo — que ele confundiu com infidelidade. Sozinha, ela encontra a flor murcha que Elvino lhe havia dado e canta olhando para ela, como se fosse o símbolo do amor perdido.
Texto (em italiano e português)
Italiano:
Ah! non credea mirarti
Sì presto estinto, o fiore;
Passasti al par d'amore,
Che un giorno sol durò.
Potria novel vigore
Il pianto mio recarti...
Ma ravvivar l'amore
Il pianto mio non può.
Tradução:
Ah! não pensei ver-te
tão cedo murcha, ó flor;
passaste como o amor,
que apenas um dia durou.
Talvez nova força
meu pranto te pudesse dar...
mas reavivar o amor,
meu pranto já não pode.
Sentido da ária
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Lamento contido: Amina não grita, não acusa. Ela aceita a dor, com a delicadeza de quem ama profundamente.
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Flor como metáfora: A flor murcha é símbolo do amor que parece ter morrido. A esperança é frágil, como pétalas.
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Renúncia e impotência: Mesmo que o choro possa devolver a vida à flor, não pode trazer de volta o amor perdido.
Características musicais
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Andamento lento, com fraseado legatíssimo e respiração delicada.
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A linha vocal exige grande controle e nuance emocional.
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Não é uma ária de bravura, mas de expressividade sutil e sublime.
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O uso de meia voz, pianissimi, e rubato é essencial para comunicar a fragilidade do momento.
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Bellini gostava tanto dessa melodia que mandou gravá-la em sua própria lápide, com os versos “Ah! non credea mirarti…”
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